O medo de ter MEDO
Em diversas ocasiões abordamos o tema “medo”, mas esta é uma questão que permanece latente na vida do ser humano, e, infelizmente, até no seio do mundo cristão. Nesta meditação não iremos tocar no medo, praticamente instintivo, que temos de situações de fato, que mais poderíamos tratar como sustos ou cautelas justificáveis, e até mesmo úteis, para nos preservar de ameaças da natureza e condições adversas para nossa saúde e integridade física e espiritual. Da mesma forma, como já foram avaliadas em outros estudos, deixaremos de lado as muitas “fobias”, que colocam vidas em pânico diante de condições que outros entenderiam como absolutamente normais, tais como espaços abertos ou lugares de tamanho reduzido. De certa forma, estaremos fazendo uma breve apreciação do medo em si, ou seja, uma espécie de sensação que se auto-alimenta, independente de razões específicas. Embora seja válido considerara a definição formal de medo: “Situação de inquietação perante eventual perigo”, isso não ofereceria maiores esclarecimentos a respeito de sua morfologia e fundamento. Como aceitamos que toda a realidade humana está fundada em Deus, devemos nos reportar à sua Palavra, para buscar uma resposta mais efetiva. Não é de surpreender que a figura do medo esteja registrada desde o Gênesis até ao Apocalipse, e sempre relacionada com as falhas do homem perante Deus. Criado a imagem e semelhança de Deus, o homem estava isento de avaliações, pois o bem e o mal eram uma reserva de conhecimento do Criador, que, no entanto lhe ofereceu o direito de escolha (Gn 1:27-31e 2:1-17), de acordo com seu Plano Eterno. Essa inocência o isentava de medo, uma vez que nem sequer identificava estar sem roupas (Gn 2:25), imagine, então se preocupar com que alguém lhe quisesse tomar a camisa (Mt 5:40). O erro, a desobediência do homem a ordem do Altíssimo, trouxe, pela primeira vez a menção ao medo:
Este medo se estabelece como companheiro do homem durante todos os séculos e vai se destacar, quando o julgamento final se apresentar, uma vez que aqueles que sempre buscaram ao Senhor, mas não como seu Deus verdadeiro, mas com outras intenções, agora não suportam a sua presença:
Se todos os medos nascem no pecado, isso nos oferece uma primeira indicação da natureza do medo, ou seja, estamos tratando de algo de natureza espiritual, e, mais do que isso, ele tem como expoente final o temor da morte, tanto física como a da alma, pois elas representam separação, daquele que nos criou. Podemos entender que o medo é uma arma do diabo, ele induz ao erro e depois acusa a pessoa diante de Deus, e diante dela mesma, para que fique amedrontada, uma vez que seu propósito é matar e destruir (Jo 10:10). A aceitação da coragem, e a rejeição do medo, passam, então por uma forma de pensar que recusa a lógica de nossa mente, e aceita aquela que é de Deus: E nisto conhecemos que somos da verdade, e diante dele asseguraremos nossos corações; Sabendo que, se o nosso coração nos condena, maior é Deus do que o nosso coração, e conhece todas as coisas. Amados, se o nosso coração não nos condena, temos confiança para com Deus; E qualquer coisa que lhe pedirmos, dele a receberemos, porque guardamos os seus mandamentos, e fazemos o que é agradável à sua vista. E o seu mandamento é este: que creiamos no nome de seu Filho Jesus Cristo, e nos amemos uns aos outros, segundo o seu mandamento. E aquele que guarda os seus mandamentos nele está, e ele nele. E nisto conhecemos que ele está em nós, pelo Espírito que nos tem dado.(I Jo 3:1-24). Não é sem razão, que o autor da epístola aos Hebreus faz uma apreciação da razão pela qual os homens ansiavam pela vinda de um Redentor: Portanto, convém-nos atentar com mais diligência para as coisas que já temos ouvido, para que em tempo algum nos desviemos delas. ... ...Como escaparemos nós, se não atentarmos para uma tão grande salvação, a qual, começando a ser anunciada pelo Senhor, foi-nos depois confirmada pelos que a ouviram; ... ... Vemos, porém, coroado de glória e de honra aquele Jesus que fora feito um pouco menor do que os anjos, por causa da paixão da morte, para que, pela graça de Deus, provasse a morte por todos. Porque convinha que aquele, para quem são todas as coisas, e mediante quem tudo existe, trazendo muitos filhos à glória, consagrasse pelas aflições o príncipe da salvação deles. ... ...E, visto como os filhos participam da carne e do sangue, também ele participou das mesmas coisas, para que pela morte aniquilasse o que tinha o império da morte, isto é, o diabo; E livrasse todos os que, com medo da morte, estavam por toda a vida sujeitos à servidão. ... ...Por isso convinha que em tudo fosse semelhante aos irmãos, para ser misericordioso e fiel sumo sacerdote naquilo que é de Deus, para expiar os pecados do povo. Porque naquilo que ele mesmo, sendo tentado, padeceu, pode socorrer aos que são tentados. (Hb 2;1-18). Isso nos indica, em primeiro lugar, que a morte, sendo o fim das oportunidades capitaneia todos os outros medos, afinal ela pode, inclusive, representar o lago de fogo (Ap 19:20 e 20:10-15), onde não há a menor sensação da presença de Deus. MEDO DA DOENÇA MEDO DA DOR MEDO DE INIMIGOS MEDO DA SOLIDÃO MEDO DA VELHICE MEDO DA POBREZA MEDO DO FRACASSO MEDO DAS PESSOAS MEDO DOS DESAFIOS MEDO DO DIABO MEDO DA ESCURIDÃO MEDO DO TRABALHO MEDO DA FOME MEDO DA SEDE MEDO DE FALAR MEDO DE PENSAR Então.... MEDO DA MORTE Mas essas palavras têm um segundo recado para nós, que é a verdade da morte de Cristo, que não tinha pecado, que pode retirar de sobre nós o medo dos pecados, do inferno e da morte, e, com estes, todos os outros. A primeira mensagem não oferece qualquer alento, mas a segunda nos será fundamental, na medida em que pudermos entender o seu alcance. Infelizmente, parece mais fácil aceitar uma fábula assustadora do que uma verdade que assegura o destemor, razão pela qual, reforçando a natureza espiritual do medo, o apóstolo nos afirma: Portanto, agora nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus, que não andam segundo a carne, mas segundo o Espírito. Porque a lei do Espírito de vida, em Cristo Jesus, me livrou da lei do pecado e da morte. ... ... E, se Cristo está em vós, o corpo, na verdade, está morto por causa do pecado, mas o espírito vive por causa da justiça. E, se o Espírito daquele que dentre os mortos ressuscitou a Jesus habita em vós, aquele que dentre os mortos ressuscitou a Cristo também vivificará os vossos corpos mortais, pelo seu Espírito que em vós habita. ... Porque todos os que são guiados pelo Espírito de Deus, esses são filhos deDeus. Porque não recebestes o espírito de escravidão, para outra vez estardes em temor, mas recebestes o Espírito de adoção de filhos, pelo qual clamamos: Aba, Pai. O mesmo Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus. E, se nós somos filhos, somos logo herdeiros também, herdeiros de Deus, e co-herdeiros de Cristo: se é certo que com ele padecemos, para que também com ele sejamos glorificados. ...Porque os que dantes conheceu também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. ...E aos que predestinou a estes também chamou; e aos que chamou a estes também justificou; e aos que justificou a estes também glorificou. Que diremos, pois, a estas coisas? Se Deus é por nós, quem será contra nós? Aquele que nem mesmo a seu próprio Filho poupou, antes o entregou por todos nós, como nos não dará também com ele todas as coisas? Quem intentará acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica. Quem é que condena? Pois é Cristo quem morreu, ou antes quem ressuscitou dentre os mortos, o qual está à direita de Deus, e também intercede por nós. Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação, ou a angústia, ou a perseguição, ou a fome, ou a nudez, ou o perigo, ou a espada? Como está escrito: Por amor de ti somos entregues à morte todo o dia; Somos reputados como ovelhas para o matadouro. Mas em todas estas coisas somos mais do que vencedores, por aquele que nos amou. Porque estou certo de que, nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem o presente, nem o porvir, Nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus que está em Cristo Jesus nosso senhor (Uma declaração de completa ausência de medo, pois somos intocáveis naquilo que importa). (Rm 8:1-39). A facilidade com que as pessoas assumem temores infundados, ou ilógicos é muito grande, mas isso não é simples, nem sem conseqüências, pois pode nos colocar na contra mão da vontade de Deus. Podemos dizer que a idolatria, a feitiçaria, as doutrinas que misturam Cristo com outros supostos elementos de salvação, embora ele seja o único nome entre Deus e o homem (Atos 4:12), além de fábulas (I Tm 1:4 e 4:7; II Tm 4:4;Tt 1:14;II Pe 1:16), horóscopos e regras religiosas humanas surgem e são respeitadas por medo e não por fé. Conta-se que certo recruta recém chegado ao quartel, notou que dentre os vários bancos de madeira que guarneciam o pátio, um era sistematicamente evitado para o uso. Curioso, procurou saber a razão daquilo, mas não conseguiu uma resposta, até que um velho jardineiro, civil, contou que, anos atrás, por ocasião de uma pintura, fora afixada uma placa proibindo o uso da facilidade, até a tinta secar. Ela secou, ficou velha, mas os soldados, temerosos de desrespeitarem uma ordem superior, nunca mais sentaram naquele banco, nem procuraram saber o porquê ninguém o fazia. Um medo sem justificativa. Um passeio pela Palavra nos mostra a maneira pela qual Deus encara os covardes, e que os medrosos sempre estão do lado daqueles que desagradam ao Senhor:
a) Era ordem de Deus que todos os covardes fossem retirados do exercito de Israel antes do inicio de qualquer batalha (Dt 20:8). b) Quando Gideão batalhou contra os midianitas todos os que eram covardes foram mandados de volta para casa (Jz 7:1-25). c) Na seleção final para o reino os tímidos serão lançados no lago de fogo e enxofre ( Ap 21:8). (Ap 22:25 e 20:14; I Cor 6:9-10;Gal 5:19-21; Ef 5:5; I Tm 1:9; Hb 12:14). Isso tem relação com o amor, a fé, e a esperança, pilares da vida de um servo de Deus (I Cor 13:13). .... E nós conhecemos, e cremos no amor que Deus nos tem. Deus é amor; e quem está em amor está em Deus, e Deus nele. Nisto é perfeito o amor para conosco, para que no dia do juízo tenhamos confiança; porque, qual ele é, somos nós também neste mundo. No amor não há temor, antes o perfeito amor lança fora o temor; porque o temor tem consigo a pena, e o que teme não é perfeito em amor. Nós o amamos a ele porque ele nos amou primeiro. Se alguém diz: Eu amo a Deus, e odeia a seu irmão, é mentiroso. Pois quem não ama a seu irmão, ao qual viu, como pode amar a Deus, a quem não viu? E dele temos este mandamento: que quem ama a Deus, ame também a seu irmão. (I Jo 4:1-21). O medo tem a capacidade de agir como semente, que cresce e se multiplica, dessa forma podemos entender a existência de um medo do passado, do presente e do futuro, como mostra a situação de Israel na jornada do deserto: PASSADO PRESENTE FUTURO
O medo leva o homem a se afastar de Deus, devido á murmuração (Ex16:8), mas esse afastamento gera ainda mais medo, de modo que pessoas se deviam e são derrotadas. Existe uma correlação da sensação de medo físico e terreno, com o medo espiritual, pois ambos são ampliados diante das trevas, do desconhecido, e Jesus disse que um cego não pode guiar outro cego (Mt 15:14 ), e que não é possível andar no escuro (Jo 12:35). Mais uma vez surge a correlação entre luz e amor, escuridão e medo: ...Aquele que diz que está na luz, e odeia a seu irmão, até agora está em trevas. Aquele que ama a seu irmão está na luz, e nele não há escândalo. Mas aquele que odeia a seu irmão está em trevas, e anda em trevas, e não sabe para onde deva ir; porque as trevas lhe cegaram os olhos. (I Jo 2:1-11). Mesmo as pessoas a quem Deus confere tarefas que podem saltar para a eternidade, estão sujeitas a falar em função do medo, como nos mostra a parábola dos talentos, quando o que recebeu somente um o “escondeu, pois tinha medo” (Lc 12:21-16). O avançar dos dias, e a melhoria da ciência e tecnologia nos afasta de temores das eras selvagens, quando convivíamos com feras e delas receávamos, mas se para os salvos se aproxima o momento onde “leão e boi pastarão juntos” (Isa 11:6-7), para muitos sem fé dias terríveis estarão reservados: Homens desmaiarão de terror, na expectativa das coisas que sobrevirão ao mundo, pois os corpos celestes serão abalados. (Lc 21:26). Jesus nos orienta sobre o destemor para com os homens, cujo poder vai somente até o tirara nossa vida e nos recomenda respeitar sim as normas eternas que definem o destino de nossa alma: E digo-vos, amigos meus: Não temais os que matam o corpo e, depois, não têm mais que fazer. Mas eu vos mostrarei a quem deveis temer; temei aquele que, depois de matar, tem poder para lançar no inferno; sim, vos digo, a esse temei. Não se vendem cinco passarinhos por dois ceitis? E nenhum deles está esquecido diante de Deus. E até os cabelos da vossa cabeça estão todos contados.Não temais pois; mais valeis vós do que muitos passarinhos. E digo-vos que todo aquele que me confessar diante dos homens também o Filho do homem o confessará diante dos anjos de Deus. Mas quem me negar diante dos homens será negado diante dos anjos de Deus. ... ...E, quando vos conduzirem às sinagogas, aos magistrados e potestades, não estejais solícitos de como ou do que haveis de responder, nem do que haveis de dizer. (Lc 12:4-11). Isto nada mais faz do que reforçar a orientação de Deus, estabelecida desde o Velho Testamento Assim o Senhor me falou, com sua forte mão sobre mim, advertindo-me de que não andasse pelo caminho deste povo, dizendo: Não chameis conjuração a tudo o que este povo chama conjuração; não temais o seu temor, e não vos assombreis. Ao Senhor dos Exércitos, a ele santificai; seja ele o vosso temor, e seja ele o vosso assombro. (Isa 8:11-13). Aquele que habita no esconderijo do Altíssimo, à sombra do Onipotente descansará. Direi do Senhor: Ele é o meu Deus, o meu refúgio, a minha fortaleza, e nele confiarei. Porque ele te livrará do laço do passarinheiro, e da peste perniciosa. Ele te cobrirá com as suas penas, e debaixo das suas asas te confiarás; a sua verdade será o teu escudo e broquel. Não terás medo do terror de noite nem da seta que voa de dia, Nem da peste que anda na escuridão, nem da mortandade que assola ao meio-dia. Mil cairão ao teu lado, e dez mil à tua direita, mas não chegará a ti. Somente com os teus olhos contemplarás, e verás a recompensa dos ímpios. Porque tu, ó Senhor, és o meu refúgio. No Altíssimo fizeste a tua habitação. Nenhum mal te sucederá, nem praga alguma chegará à tua tenda. Porque aos seus anjos dará ordem a teu respeito, para te guardarem em todos os teus caminhos. Eles te sustentarão nas suas mãos, para que não tropeces com o teu pé em pedra. Pisarás o leão e a cobra; calcarás aos pés o filho do leão e a serpente. Porquanto tão encarecidamente me amou, também eu o livrarei; pô-lo-ei em retiro alto, porque conheceu o meu nome. Ele me invocará, e eu lhe responderei; estarei com ele na angústia; dela o retirarei, e o glorificarei. Fartá-lo-ei com longura de dias, e lhe mostrarei a minha salvação. (Salmos 91:1-14). Estudo bíblico de autoria de Pastor Elcio Lourenço. Pastor desde 1968. Ministrado na cidade de Brasília, em maio de 2009. www.pastorelcio.com Pastor Elcio
Enviado por Pastor Elcio em 07/05/2009
Alterado em 07/05/2009 |