Paulo: mentor ou vilão?
Matéria veiculada na Revista Superinteressante com autoria de Yuri Vasconcelos, sob o título: "o homem que inventou Cristo", trás um novo questionamento sobre a evolução do cristianismo.
Matéria original da Super Interessante: http://super.abril.uol.com.br/revista/0195/capa/1951.html Essa não é a primeira e não será a última das análises que irão, cada dia mais, buscar mostrar que a Palavra de Deus contém falhas históricas, técnicas ou mesmo conceituais. Para você que tem visitado o site, principalmente os que iniciam agora o estudo da Bíblia Sagrada, devo dizer com toda a tranqüilidade que não há com o que se preocupar. Percorri muitos anos no evangelho e posso manejar a Palavra com toda a experiência e devo dizer que a evolução conhecimento, da ciência e da tecnologia sempre buscaram confrontar a letra da Palavra, mas isso não atinge seu espírito, mesmo porque “a letra mata, mas é o Espírito que dá vida”(II Cor 3:6) . O ambiente ao nosso redor muda, e vai mudar muito mais ainda. Lembro-me de que nos anos 60, como produtor de músicas evangélicas, tive entre os nossos lançamentos um disco gravado por um ex-presidiário que aceitara Jesus, cujo nome era João Batista Rodrigues, o “Testinha”. Uma das faixas do disco tinha o seguinte refrão dizia: “Lá na lua ninguém vai, Salve a alma tua”! Milhares de discos foram vendidos, e houve pessoas que levantaram a tese de que se o homem chegasse à lua estaria derrubado um fundamento da fé, e que Deus seria questionado. Como, todavia, nunca houve na Bíblia qualquer impedimento para que o homem conquistasse o espaço, chegamos à lua, andamos nela, um astronauta russo disse que no espaço não havia encontrado Deus, mas a Bíblia continua absolutamente válida, e Deus é Deus de eternidade em eternidade (Salmos 90:2). Especificamente em relação ao nosso comentarista da revista, temos condição de observar os seguintes pontos: 1 - O autor, com a propriedade da lógica, pois não há evidências de que seja cristão, afirma: “os textos bíblicos são as únicas fontes disponíveis para se reconstruir a história do santo – acreditar neles é uma questão de fé”. Essa assertiva resume toda a lógica da Bíblia, um livro que não se destina a descrever a divindade em sua condição absoluta, mas que dá as “dicas” sobre o método de Deus, que se baseia no exercício da fé. “Sem fé é impossível agradar a Deus” (Hebreu 11:6) e, por isso, não temos uma escritura amarrada por fatos históricos, matematicamente perfeitos e comprováveis. Deus se mostra para os homens como se mostrou para Moisés, fazendo ver a sombra de sua glória e não a sua face, pois ele é absoluto, enquanto que os homens são extremamente frágeis (Êxodo 33: 18-23) . O próprio apóstolo Paulo, personagem central dessa análise, nos alertou: “Porque agora vemos por espelho em enigma, mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei, como também sou conhecido.” ( I Cor 13:12). Jesus fez questão, em várias ocasiões, de que as pessoas por Ele abençoadas mantivessem silêncio sobre sua pessoa, uma vez que sua missão principal era dar a vida por muitos e não estabelecer regras de procedimento religioso (Jo 10: 15-17). Não há registrode que Jesus tenha escrito qualquer texto, e Ele mesmo foi claro para com seus discípulos ao afirmar que não poderia falar ainda certas coisas, uma vez que eles não estariam preparados para recebê-las, mas que o Espírito Santo haveria de instruir os que cressem nele ao longo dos tempos por vir (João 16: 1-14). O Mestre não se fez marcar por instruções de procedimento, Ele ministrou em parábolas e, no entanto, Pedro pÔde afirmar: “só tu tens a palavra de vida eterna”.( Jo 6:68) . Jesus não tinha “parecer nem formosura”(Isa 53:2) , mas Ele tomou sobre si nossos pecados e por suas pisaduras fomos sarados (Isa 53:5), realidade que nos é transferida por Paulo ao estabelecer o sacramento da santa ceia (I carta de Paulo aos Coríntios 11). • - Ao assumir que a Bíblia somente pode ser aceita por um “ ato de fé”, o autor do artigo veiculado no periódico também se vê obrigado a aceitar os desígnios de Deus, que são mostrados no trecho bíblico citado (Atos 9) . Essa narrativa demonstra mais uma vez que Deus usa a quem quer e na forma que quer, nos moldes do que fez com Abraão, Jacó, Davi, Gideão, Elias, João Batista, Maria e tantos outros. Saulo, que se tornaria Paulo, era um homem de objetivos. Ele estava disposto a fazer o que fosse necessário para manter intactas coisas nas quais cria, inclusive matar pessoas que discordassem das normas judaicas tradicionais. Contudo era sincero, pensando que assim agradaria a Deus. O Senhor do universo, que não olha aparências, mas sim os corações (I Sm 16:7 ), sabia que Saulo estava pronto para ser um instrumento em sua mão e, por isso, tomou decisão de “convertê-lo” pessoalmente, sem a intermediação de qualquer um dos discípulos existentes. Isso é próprio do agir de Deus, cujos pensamentos são muito mais altos dos que os nossos (Isa 55:9) , e fica claro que Ele providenciou para que o agora Paulo ficasse cego até que fosse “cheio do Espírito Santo”. Provavelmente para evitar que ele, assustado com tudo o que estava acontecendo, “desse no pé” antes da hora. Paulo tinha o perfil certo para ser conduzido pelo Espírito Santo para uma obra única, que realmente levasse a palavra do evangelho além das fronteiras de Israel. Cabe lembrar que, dentre outras coisas, ele era cidadão romano (At 16:37-38; At 22:25-28) , o que lhe abria certas portas naquela época. 3-Não é possível negar a importância das cartas de Paulo na estruturação da doutrina cristã, mas elas foram escritas conforme a orientação que Deus lhe deu pelo seu espírito, “trocando em miúdos” aquilo que havia sido ministrado por Jesus em essência. Não há porque se prender a certas recomendações formais, pois existe um tesouro de esclarecimentos espirituais nessas epístolas. Veja por exemplo a revelação da igreja como corpo de Cristo (II Cor 12:12-27; Efe 23;1) ,a instrução sobre a segunda vinda de Jesus (I Tess 4:13-17) , os dons espirituais (I Cor 12) e a excelência do amor (I Cor 13) . Paulo fala sobre o respeito às autoridades, sejam elas governamentais, de trabalho ou familiares, mas isso não acrescenta qualquer novidade quanto ao que foi estabelecido por Jesus que determinou: “dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”(Mat 22:2; Lc 20:25) . Dizer que as cartas de Paulo são “uma fraude nos ensinamentos de Cristo”, conforme o citado, busca tão somente atribuir a Jesus a condição de um “espírito iluminado”, o que não se coaduna com o dia a dia dos mortais, e que lança uma concepção doutrinária para ser sonhada e não vivida, algo que não interessa para nossos objetivos, sejam eles seculares ou eternos. Isso já era previsto, não por Paulo, mas por João, chamado o apóstolo amado, que nos alerta: “E todo o espírito que não confessa que Jesus Cristo veio em carne não é de Deus; mas este é o espírito do anti-Cristo, do qual já ouviste que há de vir, e eis que está já no mundo.” ( I João 4: 3). Por outro lado, afirmar que Paulo teve uma postura voltada para forçar os cristãos futuros a respeitarem idéias que não eram aquelas de Jesus, demonstra exclusivamente o desconhecimento das próprias palavras do apóstolo registradas em suas cartas: “Porque vós irmãos fostes chamados à liberdade. Não useis então da liberdade para dar ocasião a carne, mas servi-vos uns aos outros pela caridade.”(Paulo na carta aos- Gálatas 5:13). “Ora o Senhor é Espírito, e onde está o Espírito do Senhor há liberdade.”(Paulo na sua segunda carta aos Coríntios 3:17). Não resta dúvida de que há menções específicas de Paulo com relação às mulheres e outros assuntos que poderiam ser polêmicos, mas essas têm um cunho de recomendação, pois ele se nega a abrir contendas (Fil 2 ;3;I Tim 2:8;; II Tim 2:24) . É importante observar que Paulo tem uma posição clara a nos transmitir, que pode ser anotada a partir de dois trechos bíblicos: I-“ Sede pois meus imitadores como eu sou de Cristo” (I Cor 11:1) [ mostra sua convicção de estar oferecendo o melhor de si para a causa de Deus, embora admita suas falhas e a incapacidade de fazer o bem que deseja (Rm 7: 18-19 ) ]. II -“Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas me conveêm. Todas as coisas me são lícitas , mas eu não me deixarei dominar por nem uma.”(I Cor 6:12) [mostra sua convicção da liberdade concedida por Cristo, toda a tradição, norma religiosa e exigência humana, ficam em segundo lugar (Hebreus 12:2 ), pois o poder do sacrifício divino é imensamente maior]. 4-Destaca-se, dentro da argumentação bastante frágil em sua conceituação, diga-se de passagem, a falha no tema dado a matéria que lhe foi dado, uma vez que pretende afirmar estarmos hoje cultuando um Cristo que teria sido forjado por Paulo. A concepção e apresentação de Jesus à humanidade começa em Gênesis e é concluída em Apocalipse, tendo Paulo somente uma participação de treze cartas em sessenta e seis livros. Desta forma, o autor da aludida matéria sugere que os cristãos ignoram todo o resto e se atém somente aos escritos do apóstolo. Mais do que isso, é importante registrar que, para o nosso caro analista, e para alguns dos personagens que cita, o evangelho é uma simples cartilha, não existindo a orientação divina do Espírito Santo, que não está restrita aos homens da Bíblia, mas se aplica a cada um de nós que cremos que Jesus é o Senhor. “Mas o que é espiritual discerne bem, tudo, e ele de ninguém é discernido.” “Pois quem conheceu a mente do Senhor (Jesus), para que possa instruí-lo?” (Palavras de alguém que quer criar um cristo a sua maneira?!!!!!!!!) . “ Mas nós temos a mente de Cristo” . I Cor 2:16 . Lembre-se que Paulo conviveu com os apóstolos de seu tempo e esses, embora o considerassem profundo em suas colocações, o tinham como servo de Deus com qualificação especial . Sim, os mesmos discípulos que partilharam do ministério terreno de Jesus por três anos, privilégio que Paulo não teve. “E tende por salvação a longanimidade de nosso Senhor; como também o nosso amado irmão Paulo vos escreveu, segundo a sabedoria que lhe foi dada. Falando disto, como em todas as suas epístolas, entre as quais a pontos difíceis de entender, e que os indoutos e inconstantes torcem e igualmente as outras Escrituras, para sua própria perdição”. (Segunda carta do apóstolo Pedro, o mais conservador e determinado de todos em servir a Jesus, capítulo 3, versos 15 e 16). Essas questões trazidas com relação a Paulo, volto a mencionar concordando com Pedro, serão levantadas e distorcidas por aqueles que querem discutir Cristo e não viver Cristo. Elas vão se estender a muitos pontos da Palavra. Seria perfeitamente possível avançar muito mais nessa análise com base na realidade da Palavra, como um todo, mas gostaria de encerrar simplesmente com as declarações de Paulo sobre o objetivo e característica de seu ministério: “Porque nada me propus saber entre vós, senão a Jesus Cristo, e este crucificado.” ( primeira carta de Paulo aos Coríntios 2:2). “Mas o que para mim era ganho reputei-o perda por Cristo”. E, na verdade, tenho também por perda todas as coisas pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor...” (carta de Paulo aos Filipenses, capítulo 3, versos 7 e 8). Parte das considerações do autor, Yuri Vasconcelos, têm como fundamento livro apócrifo que não é utilizado para compor a Bíblia Sagrada que fundamenta a crença evangélica. Pastor Elcio
Pastor Elcio
Enviado por Pastor Elcio em 21/03/2007
Alterado em 21/03/2007 |